11 julho 2012

Curtas.

Nestes primeiros quatro dias de Curtas só vi a misteriosa longa The Invader de Nicolas Provost, as Competições Nacionais 1 e 2 e a Competição Internacional 2. Das duas competições nacionais fiquei com a ideia de que a nível técnico são muito bem conseguidas, as perspetivas que dão (visualmente) e a forma como são filmadas é bastante interessante, mas falta sempre qualquer coisa. Talvez seja a falta de ideias, de um bom argumento, de imaginação… Não sei, mas algumas destas curtas, diria até a generalidade das que vi, conseguem ser demasiado longas – às vezes “5 minutos” é demasiado tempo para uma pessoa. Nota-se que muitas saem do mesmo forno dada a forma e o ritmo com que são feitas. É claro que eu não percebo nada e a minha opinião vale o que vale. Pode ser que hoje seja surpreendido.




Já a Competição Internacional 2, a única internacional que vi até ao momento, convenceu-me. Começou com Tennis (Vladimir Dembinski), uma história muito simples de um miúdo (Matei) que tem um jogo de ténis e é acompanhado e "encorajado" pelo seu pai. No jogo não acerta uma e farto das indicações do pai fica subitamente com uma dor de barriga, na zona do apêndice. Vão ao médico que, apercebendo-se da situação, diz que Matei precisa de dois meses de descanso do ténis. Sem o pai ouvir, o médico diz ainda a Matei que depois disso ele está por sua conta. Chegam ao carro e o pai diz que não confia no médico e que o vai levar a outro. Simples mas muito boa. (Deve ter sido por isto que o meu pai só me foi ver uma vez jogar futebol).

De seguido veio o momento mais efusivo da sessão, com Flamingo Pride, uma animação muito engraçada que gira à volta de um flamingo heterossexual, o único, que se apaixona por uma cegonha. Muio bom. No ano passado vivi um momento parecido no festival com The External World. Tenho de ir ao Curtinhas mal possa!

No início da sessão, Caroline Deruas disse que teve durante algum tempo receio de fazer este filme porque a responsabilidade era muito grande. Disse também que o assunto é tabu em França e que na escola não aprendem a verdadeira história. Como já tinha lido a descrição de Les Enfants De La Nuit, pensei que seria mais um mítico filme em que uma francesa se apaixona por um soldado alemão em plena II guerra mundial. Caroline, no entanto, consegue algo diferente. Intenso, com o ritmo certo, com música que encaixa bem, Les Enfants De La Nuit conta a história de Henriette (Adèle Haedel), francesa que vive com o avô e cuja mãe faz parte da Resistência, que se apaixona por Josef (soldado alemão) e que deixa para trás o seu grande amigo de sempre Marcel (Arthur Igual, Petit Talleur,Curtas 2011). Este último acaba por trair a jovem que ama desde sempre. O que podia ser banal acaba mesmo por ser surpreendentemente bonito e trágico.



Sendo suspeito, porque gosto muito dos países da ex-Jugoslávia, esta última curta encheu-me as medidas, tal como as três anteriores afinal. Em Baggage o realizador Danis Tanovic explora o assunto guerra e pós-guerra através da viagem de Amir, que vive na Suécia com a mulher e filho e que volta à sua terra natal para enterrar os corpos dos pais que, segundo foi informado pelas autoridades, foram encontrados passados tantos anos de terem sido assassinados. Contudo não foi este o caso e Amir acaba por descobrir o que resta dos seus corpos mas através da ajuda preciosa de um amigo de infância. Tem no entanto de pagar €5.000 para que lhes levem ao local. Muito intensa, com as paisagens típicas que tanto aprecio e a trespassar pedaços daquela cultura muito própria, esta curta demonstra um povo que ainda sofre as consequências de uma guerra que está demasiado fresca.



primeira foto: Baggage
segunda foto: Les Enfants de La Nuit

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